José era um menino de cerca de dez anos que trabalhava como voluntário num programa católico de alimentação grátis a moradores de rua. Doava seu tempo, servindo café da manhã ou almoço aos mais pobres. Era dono de um sorriso irradiante. Tudo leva a crer que passaria sua vida ajudando os pobres, distribuindo sorrisos, fazendo o bem.
Foi atropelado no seu quadriciclo em Bonito, Pernambuco. Mas, em Pernambuco, mesmo depois de tantos governadores e prefeitos, tudo está concentrado no Recife. José teve que ser transportado até a capital (são cerca de duas horas). Em alguns acidentes, o tempo até o atendimento médico é crucial. Muitos brasileiros morrem porque o atendimento demora e nem sempre é competente.
No Brasil, cerca de 50 mil pessoas morrerão no trânsito em 2018 e outras 400 mil sofrerão lesões sérias. Temos uma taxa por 100 mil veículos de 57,5, mais do dobro do que a da Argentina (24,3), mais de dez vezes a da Espanha (5,3). Das regiões brasileiras, o Nordeste e o Norte têm as taxas mais altas entre as regiões brasileiras.
Para explicar as altas taxas brasileiras, é preciso juntar a incompetência e a corrupção das elites políticas, em todos os níveis, e o baixo nível de civismo de parte da população, que dirige alcoolizada, em excesso de velocidade e desobedecendo às leis do trânsito, que foram feitas para proteger os que estão dentro dos veículos e fora deles.
Há perto de duas décadas, um programa de prevenção reduziu a taxa de mortalidade à metade no Distrito Federal. Chamado Paz no Trânsito, ficou conhecido. Resultados semelhantes salvariam 25 mil vidas por ano, todos os anos.
Essa carnificina é feita por pessoas, por brasileiros.
Pessoas, brasileiros, podem acabar com ela.
GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ
Trânsito: Mortes Evitáveis,buggies,colisões,atropelamentos,centros de trauma