STATCOUNTER

Um espaço para que pesquisadores nas Ciências Humanas discutam suas idéias, seus projetos, suas análises.

Saturday, July 21, 2018

Morre um menino

José era um menino de cerca de dez anos que trabalhava como voluntário num programa católico de alimentação grátis a moradores de rua. Doava seu tempo, servindo café da manhã ou almoço aos mais pobres. Era dono de um sorriso irradiante. Tudo leva a crer que passaria sua vida ajudando os pobres, distribuindo sorrisos, fazendo o bem.

Foi atropelado no seu quadriciclo em Bonito, Pernambuco. Mas, em Pernambuco, mesmo depois de tantos governadores e prefeitos, tudo está concentrado no Recife. José teve que ser transportado até a capital (são cerca de duas horas). Em alguns acidentes, o tempo até o atendimento médico é crucial. Muitos brasileiros morrem porque o atendimento demora e nem sempre é competente.

No Brasil, cerca de 50 mil pessoas morrerão no trânsito em 2018 e outras 400 mil sofrerão lesões sérias. Temos uma taxa por 100 mil veículos de 57,5, mais do dobro do que a da Argentina (24,3), mais de dez vezes a da Espanha (5,3). Das regiões brasileiras, o Nordeste e o Norte têm as taxas mais altas entre as regiões brasileiras.

Para explicar as altas taxas brasileiras, é preciso juntar a incompetência e a corrupção das elites políticas, em todos os níveis, e o baixo nível de civismo de parte da população, que dirige alcoolizada, em excesso de velocidade e desobedecendo às leis do trânsito, que foram feitas para proteger os que estão dentro dos veículos e fora deles.

Há perto de duas décadas, um programa de prevenção reduziu a taxa de mortalidade à metade no Distrito Federal. Chamado Paz no Trânsito, ficou conhecido. Resultados semelhantes salvariam 25 mil vidas por ano, todos os anos.

Essa carnificina é feita por pessoas, por brasileiros.

Pessoas, brasileiros, podem acabar com ela.

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

Trânsito: Mortes Evitáveis,buggies,colisões,atropelamentos,centros de trauma

Tuesday, July 10, 2018

Os idosos e o hexa

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Nós, coroas, também gostamos de futebol. Alguns... Gostaríamos de ver, torcer e sentir o hexa. Afinal, o Brasil vai mal em tantas coisas que, para um grupo de coroas, o hexa seria um consolo, ainda que pequeno e passageiro. Duraria até o próximo dissabor, talvez um tiroteio na vizinhança, uma nova doença, a falta de um medicamento, a soltura do Sérgio Cabral, o cancelamento de uma visita de um filho ou filha... Enfim, muitas das coisas que reduzem, com frequência, a qualidade de vida dos idosos.

Mas há outro grupo de idosos que fica feliz com as derrotas. São os que não se interessam por futebol e se sentem incomodados com os feriados e o fato de que nada funciona nos dias de jogos do Brasil. Tudo fecha. Não é que nos outros dias funcione bem, mas pelo menos abre. Mas há mais um grupo, interessante de analisar: os velhos revolucionários!  Torcem contra. Acham que, com as derrotas, o potencial revolucionário do povo brasileiro aumenta. Estou falando de gente séria, que acredita, mesmo, nisso!

Mas, qual a probabilidade de que nós idosos, seja do tipo solitário rabugento, do tipo “pele curta” (o cordial sempre sorridente), o eterno revolucionário - o que for - tem de assistir e torcer na próxima Copa? Aos 80, a esperança média de vida é 88,9 anos para os homens. E para as mulheres, a esperança é um ano maior. Quem sabe, vai dar para cobrir duas Copas, ambas fora da Europa, o que aumenta as chances do Brasil (e dos não europeus, em geral).

Claro que a esperança é maior para os que tem boa saúde.

E o que acham os diferentes grupos de coroas? Qual a previsão deles? Os Pele Curta acham que verão duas, talvez três Copas a mais. Daqui mesmo. Se não for daqui, será de um lugar melhor. Os Solitários Rebujentos, pessimistas, acham que verão as próximas Copas de um lugar pior. Os Coroas Revolucionários seguem a tradição e estão divididos. Um grupo, otimista, acha que ninguém verá mais Copas porque a Revolução virá e acabará com a Copa, ópio do povo. Outro grupo, mais pessimista, acha que a revolução não virá porque o povo não está maduro. E eles não verão mais Copas porque, antes da próxima Copa, quando baterem o pacau acabará tudo e não há de onde ver.

E eu?

Aos 84, com câncer, fibrilação atrial, embolias pulmonares múltiplas, artrites e artroses espalhadas etc. Estatisticamente, de acordo com uns testes, já deveria ter morrido há duas Copas atrás. Estatisticamente... Ponto fora da curva e até fora do papela A-4.

Tenho toda a intenção de ver o deca.

Daqui mesmo.

Gláucio Soares

Friday, July 06, 2018

Índice automatizado para prever a sobrevivência de cancerosos

Há quase consenso de que avaliar corretamente o que acontecerá com o paciente é algo positivo. No câncer da próstata, o estado dos ossos é importante para um prognóstico correto. Atualmente, é feito “a olho” pela maioria dos médicos. Foi desenvolvido um Index que ajuda a prever a agressividade do câncer, mede o efeito dos tratamentos, prevê o tempo de sobrevivência etc.

Só há programas que estão sendo desenvolvidos para fazer isso automaticamente. Um deles se chama “The automated Bone Scan Index” (aBSI).

Claro, o aBSI, como qualquer índice, tem que ser validado empiricamente. É preciso mostrar que funciona, que ajuda no prognóstico.

Andrew J. Armstrong e associados fizeram isso. Recrutaram 1245 pacientes com cânceres avançados, que não respondiam mais à terapia hormonal (mCRPC), que tinham metástases, e não tinham feito químio. Desses, 721 tinham informações que permitiram o uso do aBSI.

Queriam saber se o aBSI era capaz de prever a sobrevivência daqueles pacientes. Dividiram os pacientes em quatro grupos com aproximadamente o mesmo número de pacientes, de acordo com o aBSI, do melhor para o pior (quanto mais baixo o aBSI, melhor) e viram qual a mediana da sobrevivência de cada grupo. Esses grupos estatísticos são chamados de quartís. A sobrevivência mediana, no melhor quartil, foi de 34,7 meses - quase três anos; nos demais quartís foi de 27,3, 21,7 e 13,3 meses.

É, portanto, um instrumento válido. Evidentemente, poderá ser melhorado.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ