STATCOUNTER

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Monday, May 20, 2019

O TRISTE FIM DE UMA VÍTIMA DE MUITAS VIOLÊNCIAS

Columbine é um nome que ficou marcado na história da violência. Em 20 de abril de 1999, há pouco mais de vinte anos, dois estudantes da última série da Columbine High School, no Estado de Colorado, chamados Eric Harris e Dylan Klebold, mataram doze estudantes e um professor. Os assassinos cometeram suicídio.
Houve muitos protestos nos Estados Unidos, mas protestos só se transformam em leis através do Legislativo americano. E o lobby das armas, a NRA (National Rifle Association) tem uma política agressiva com dois alvos: apoiar os deputados e senadores armamentistas e apoiar os adversários dos desarmamentistas. Essa segunda estratégia política não faria muito sentido num sistema proporcional, mas é muito eficiente num sistema majoritário, onde somente um deputado é eleito em cada distrito. No Brasil, a indústria e o comércio armamentistas obtém melhores resultados elegendo políticos favoráveis do que impedindo a eleição de opositores. Apoiaram vários políticos importantes eleitos em 2018.
O total das vítimas de Columbine é maior do que o número de pessoas que morreram no local ou pouco tempo depois, no hospital. Para cada vítima direta, há um número maior de vítimas ocultas, parentes e amigos dos que morreram ou foram feridos. A dor provocada pela violência é muito maior do que a que os olhos podem ver na cena do crime e dura muito tempo -anos, muitos anos, décadas.
O professor assassinado, William "Dave" Sanders, salvou muitas vidas. Foi o terceiro a ser atingido e o último a morrer. Ficou conhecido pela sua coragem e pelo seu sacrifício. Mesmo ferido, continuou protegendo e orientando os estudantes. Uma estimativa coloca em mais de cem o número de vidas que Dave salvou. Mas, coragem e glória à parte, o professor tinha uma família: deixou uma viúva, quatro filhos e filhas sem pai e cinco netinhos e netinhas, que perderam o vovô Dave. Não há estatísticas para a dor dessas pessoas.
Além das vítimas ocultas, relacionadas por laços de família e amizade com os mortos e feridos, há outras vítimas não computadas. Houve 21 feridos na escola e mais três feridos enquanto fugiam do massacre. O trauma psicológico não fecha junto com as feridas das balas.
Um dos feridos era Austin Eubanks. Seu melhor amigo, Corey DePooter, morreu ao seu lado. Já no hospital, para combater a dor dos ferimentos, teve que tomar medicamentos, analgésicos fortes e, depois, opioides. Virou dependente. Conseguiu superar a dependência e se tornou um ativista contra as drogas. Mas os danos ao seu corpo e mente eram profundos. Faleceu há pouco, aos 37 anos. Viveu quase meio século a menos do que a estimativa para uma pessoa normal nascida no mesmo ano nos Estados Unidos. Não há estatísticas para esse tipo de vítimas.
Vivemos num momento, no Brasil, em que a indústria das armas tenta se aproveitar de um momento politicamente favorável para enfraquecer o Estatuto do Desarmamento.
Por que fazem isso?
Por idealismo?
Por dinheiro. Querem ganhar mais dinheiro às custas das nossas vidas.
Simples assim.

GLÁUCIO SOARES

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